A produção de rãs em cativeiro (ranicultura) é
uma atividade relativamente nova. A cadeia produtiva compreende: a criação
de rãs (ranários), a indústria de abate e processamento
e a comercialização dos produtos oriundos da ranicultura.
A Figura 1 ilustra todas as etapas da cadeia produtiva, que pode ser assim
resumida: Inicia-se no ranário, onde se processam todas as fases
do ciclo de vida das rãs: a desova, a fase de desenvolvimento do
girino até a metamorfose e a recria (processo de engorda dos animais).
Concluída a recria, as rãs são levadas para o abate
nas indústrias de processamento especializadas (abatedouros),
seguindo rigorosamente as normas higiênico-sanitárias definidas
pelos organismos de saúde pública. Processada e embalada,
a carne é enviada para o mercado consumidor.
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Degustar a carne de rã é um hábito tão saudável quanto antigo. Já era citado por Heródoto em seus escritos como fina iguaria que os gregos serviam aos comensais em comemorações da mais distinta e elevada sociedade. Consta que na China a rã é considerada como alimento a mais de quarenta séculos.
Nas migrações européias do século XIX, italianos, franceses, alemães, suíços, belgas e outros povos difundiram o hábito do consumo da carne de rã como alimento nos Estados Unidos, Canadá, Venezuela, Chile e Argentina. No Brasil o costume de comer carne de rã não se deve exclusivamente ao imigrante europeu, de vez que nossos índios já utilizavam os anfíbios em sua alimentação.
Ao contrário de outros países que praticam a caça ou cultivo extensivo, o Brasil, por sua vez, procurou desenvolver a tecnologia de criação em cativeiro, primeiramente através dos esforços isolados de criadores independentes, mais tarde com a efetiva participação de Instituições de Pesquisas, como Universidades e outros.
A ranicultura no Brasil, teve início na década de 30 com a introdução em 1935 da rã-touro (bullfrog), Rana catesbeiana, por Tom Cyrill Harrison técnico canadense em ranicultura. É citado como primeiro registro histórico a implantação do Ranário Aurora, no Estado do Rio de Janeiro, que consistia de uma área cercada com chapas de zinco, rica em vegetação e com água abundante.
Na década de 70, novos modelos de ranários foram propostos. Baseado na experiência de criadores, surgiu o modelo chamado Tanque-ilha, escavado no solo e contendo no centro da escavação uma ilha onde se colocavam carcaças ou outros restos que atraiam insetos para a alimentação dos animais.
A tecnologia de criação de rã teve seu maior avanço a partir da década de 80, quando pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia propuseram as baias de recria denominada de “Confinamento” forçando o abandono do Tanque-ilha, tipo de instalação até então utilizada. Esse tipo de ranário era constituído por compartimentos com formato retangular, cercados por placas pré-moldadas de argamassa armada e cobertos com telhas de fibrocimento e telas de náilon, piso em cimento e, piscina que ocupa cerca de 25% da área da baia.
A partir daí, outras propostas de instalações para
ranário surgiram, resultando em melhorias consideráveis nos
índices zootécnicos na fase de recria. Entre essas destaca-se:
o “Sistema Anfigranja”.
Compreende um conjunto de instalações, associadas a técnicas
de manejo especialmente desenvolvidas para cada um dos setores da criação.
A padronização das instalações e a sistematização
do manejo de rotina, tem possibilitado uma evolução gradativa
dessa tecnologia. A exemplo de outras atividades da produção
animal, o sucesso da criação de rãs passou a ter um
desenvolvimento efetivo depois que construções mais adequadas
foram associadas às técnicas de manejo sistematizado, possibilitando
um bom desempenho no crescimento do plantel aliado à baixa mortalidade.
Tal premissa é contemplada pelo sistema anfigranja, onde a rã-touro
tem apresentado níveis de produtividade comparáveis às
criações tradicionais como a piscicultura, avicultura, etc.
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No processo de desenvolvimento tecnológico do Sistema Anfigranja, inicialmente os pesquisadores contemplaram o setor de recria, onde os elementos básicos do piso (cocho, abrigo e piscina) se dispõem linearmente em área proporcional ao número de rãs que são alojadas em cada baia (Lima & Agostinho, 1988); recentemente inovações foram introduzidas, com pequenas modificações no perfil do cocho e centralização da piscina, mantendo-se a mesma disposição linear (Lima, 1997). O setor de reprodução possue uma baia de mantença com piso semelhante ao da recria, com baias de acasalamento em anexo (Lima & Agostinho, 1992). O setor de girinos se caracteriza pela padronização das instalações (tanque circular ou retangular) e sistematização do manejo associado a um mecanismo auto-limpante, composto de uma rede hidráulica em alta pressão e fundo com uma moega (tipo funil) acoplada a um tubo em cotovelo para o escoamento dos resíduos (fezes, restos de ração e gases) como indicado em Lima (1997).
Um ranário que adota o Sistema Anfigranja pode ser, resumidamente, assim descrito:
O Setor de Reprodução é constituído
de duas áreas distintas: as baias de mantença e as de acasalamento.
Na primeira, as rãs reprodutoras são mantidas confortavelmente
durante todo o ano, sendo transferidas para as baias de acasalamento quandoo ranicultor necessita de desovas. Essas baias de acasalamento podem ser
para apenas um casal de cada vez (individualizadas), ou para vários
casais (baias coletivas). Após a reprodução, a desova
é transferida para o setor de girinos, e o casal retorna para a
baia de mantença. Apesar dessa baia ser semelhante às do
setor de recria, seus elementos básicos estão em número
e dimensões proporcionais ao porte dos reprodutores, que são
alojados em uma densidade bem inferior (Lima & Agostinho, 1992).
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O Setor de Girinos é formado por um conjunto de tanques,
construidos em tamanho e número proporcional ao porte do empreendimento.
A desova é depositada em uma incubadeira, onde ocorrerá o
desenvolvimento embrionário até a saída das larvas,
as quais, decorridos alguns dias, darão origem aos girinos propriamente
ditos. Nos tanques, os animais vão se desenvolver até a metamorfose
(Lima, 1997, 1998).
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No Setor de Recria, constituído de baias de recria inicial
e baias de terminação. Essas baias consistem de abrigos,
cochos e piscinas dispostos linearmente e adequados ao tamanho dos animais.
As baias de recria inicial, recebem os imagos após a metamorfose,
oriundos ou não de uma mesma desova. Quando as rãs alojadas
nessas baias alcançam de 30 a 40 g, são triadas e transferidas
para as baias de crescimento e terminação. As baias de crescimento
e terminação, são destinadas a receberem lotes uniformes
de rãs oriundas das baias de recria inicial, onde permanecem até
atingirem o peso de abate. Nesse momento, são enviadas para a industria
de abate e processamento.
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Texto: Samuel Lopes Lima.
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