Comportamento de Cultivares de Milho-Pipoca na Safrinha
A. VAZ de MELO, L.V. SOUZA, G. V. MIRANDA, L. J. M. GUIMARÃES, F. ECKERT e J. S. LIMA.
glauco@ufv.br Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Fitotecnia. CEP 36571-000. Viçosa, MG.
Palavras-chave: interação genótipos x ambientes, safrinha, estresses abióticos, estresse mineral, germoplasma.
RESUMO
O objetivo foi avaliar a capacidade de expansão de cultivares de milho-pipoca na safrinha para as condições edafoclimáticas da Zona da Mata de Minas Gerais. Quatro ensaios de avaliação, combinados de níveis de insumos e duas épocas de semeadura, foram realizados na Estação Experimental de Coimbra, pertencente à Universidade Federal de Viçosa em fevereiro e março de 2000. Foram simulados dois ambientes com baixo e alto insumos por meio das adubações 250 kg.ha-1 da formulação N-P-K 8-28-16 + 40 kg ha-1 de nitrogênio em cobertura e 500 kg.ha-1 da formulação 08-28-16 + 80 kg.ha-1 de nitrogênio em cobertura. As épocas de semeadura foram fevereiro e março de 2000. Os cultivares de milho-pipoca DFT 2, AIWA, RS 20, UFLA 1, UFLA 2, ZÉLIA e BRS ANGELA foram avaliados utilizando o delineamento experimental em blocos casualizados, com duas repetições. A parcela experimental foi constituída de quatro linhas de cinco metros, espaçadas de 0,90 metros. Foi realizado controle químico preventivo de doenças e pragas. A capacidade de expansão (CE, volume/peso) foi medida utilizando pipoqueira de ar quente. Com baixo insumo e semeadura em fevereiro, somente Zélia e DFT 2 apresentaram CE acima de 15 (volume/volume), limite mínimo comercial. Com alto insumo e semeadura em fevereiro, somente o cultivar UFLA 2 não apresentou CE acima do valor comercial e a média de CE foi de 19,64 mL. grs-1. Para a semeadura em março, com alto ou baixo insumos, os cultivares apresentaram valores abaixo do comercial. Conclui-se que a qualidade da pipoca é diminuída na safrinha e que o plantio deve ser realizado o mais cedo possível.
Antes de 1993, os trabalhos com o milho-pipoca incluíam exclusivamente em estudos de populações locais ou populações importadas. No estado de São Paulo, somente eram recomendados para o plantio uma variedade e um híbrido triplo, sendo que ambos apresentavam suscetibilidade a doenças e qualidade de pipoca inferior aos híbridos americanos (SAWAZAKI, 1996). Posterior a 1993 começou-se a desenvolver híbridos de milho-pipoca utilizando variedades locais brasileiras cruzadas com cultivares americanos.
A qualidade da pipoca brasileira é muito inferior a norte americana. No primeiro Ensaio Nacional de Milho-pipoca, conduzido no ano agrícola de 1991/1992, a capacidade média foi de 17,5 (mL. mL-1) e a média do melhor cultivar foi de 20,8 mL.mL-1 (ANDRADE, 1996). Um cultivar comercial de milho-pipoca deve apresentar um valor de capacidade de expansão superior a 15 mL.grs-1 (COIMBRA, 2000).
Devido ao maior consumo de pipoca, nos meses de junho e julho, o cultivo do milho-pipoca na safrinha evitaria o armazenamento da produção, diminuindo os riscos de queda da qualidade da pipoca devido aos danos de pericarpo. No entanto, o cultivo na safrinha propicia condições desfavoráveis aos cultivares, como, por exemplo, seca e baixa temperatura, além da baixa fertilidade natural dos solos, sendo necessário selecionar cultivares tolerantes a estes estresses, além do estresse nutricional.
Diversos autores afirmam que a introdução e avaliação de cultivares de milho de outras regiões podem constituir o método de melhoramento mais simples, econômico e rápido para se obter cultivares adaptados às determinadas condições edafoclimáticas.
O objetivo desse trabalho foi avaliar a capacidade de expansão de cultivares de milho-pipoca na safrinha para as condições edafoclimáticas da Zona da Mata de Minas Gerais.
MATERIAL E MÉTODOS
Os ensaios de avaliação foram realizados na Estação Experimental de Coimbra, pertencente à Universidade Federal de Viçosa, em fevereiro e março de 2000, sob a coordenação do Programa Milho® UFV. Os cultivares de milho-pipoca DFT 2, AIWA, RS 20, UFLA 1, UFLA 2, ZÉLIA e BRS ANGELA foram avaliados utilizando o delineamento experimental foi blocos casualizados, com duas repetições. A parcela experimental foi constituída de quatro linhas de cinco metros, espaçadas em 0,90 metros, com uma população de plantas estimada em 55.000,00 plantas/ha. Foi realizado controle químico preventivo de doenças e pragas. Os tratos culturais foram feitos sempre que necessário e de acordo com recomendações para o cultivo do milho (BULL e CANTARELLA).
Os cultivares foram avaliados em quatro ambientes:
- Ambiente 1 – plantio em fevereiro, adubação de plantio de 250 kg.ha-1 e 40 kg.ha-1 de nitrogênio em cobertura;
- Ambiente 2 - plantio em fevereiro, adubação de plantio de 500 kg.ha-1 e 80 kg.ha-1 de nitrogênio em cobertura;
- Ambiente 3 - plantio em março, adubação de plantio de 250 kg.ha-1 e 40 kg.ha-1 de nitrogênio em cobertura;
- Ambiente 4 - plantio em fevereiro, adubação de plantio de 500 kg.ha-1 e 80 kg.ha-1 de nitrogênio em cobertura;
A capacidade de expansão (CE) foi medida utilizando pipoqueira de ar quente. Como o milho-pipoca é comercializado em peso, preferiu-se avaliar a CE em volume. peso-1 (mL. g-1).
As análises estatísticas foram realizadas utilizando o programa estatístico SAEG (RIBEIRO JÚNIOR, 2001).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A significância observada para ambiente mostra que os mesmos foram altamente contrastantes. Para os cultivares, a significância evidencia comportamento distinto entre eles. A interação cultivares x ambiente significativa mostra que os cultivares tiveram desempenho diferente em função dos ambientes avaliados (Tabela 1).
Na tabela 2, observar-se que o ambiente 2 proporcionou as melhores condições para os cultivares avaliados, obtendo-se neste ambiente a maior média de capacidade de expansão (19,64 mL. g-1). Observa-se, ainda que a maior adubação não propiciou melhor ambiente para os cultivares de milho-pipoca avaliados, quando o plantio foi atrasado. No entanto, para o plantio em fevereiro, os cultivares tiveram respostas significativas à maior dose de fertilizantes, caracterizando a cultura do milho-pipoca como altamente exigente quanto à adubação de plantio e cobertura.
Para o ambiente mais favorável, os cultivares de melhores desempenhos foram Zélia e RS 20, diferindo estatisticamente dos demais cultivares. Quando semeados em março os cultivares não diferiram entre si e tiveram médias de capacidade de expansão muito abaixo do mínimo exigido para cultivares comerciais (TABELA 3).
CONCLUSÕES
Conclui-se que a qualidade da pipoca é diminuída na safrinha e que o plantio deve ser realizado o mais cedo possível.
TABELA 1 – Análise de variância para capacidade de expansão (mL. g-1) de milho-pipoca em quatro ambientes
FV |
GL |
SQ |
QM |
F |
Blocos |
1 |
10,68 |
10,68189 |
3,35ns |
Cultivares |
6 |
66,74 |
11,12456 |
3,49* |
Ambiente |
3 |
2308,51 |
769,5040 |
241,66** |
Cultivares x Ambiente |
13 |
194,69 |
10,81616 |
3,40** |
Resíduo |
28 |
85,97 |
3,184215 |
|
Total |
55 |
2666,60 |
*,** significativo a 5 e 1 %, respectivamente; ns não significativo.
TABELA 2 – Médias de capacidade de expansão (mL. g-1) de cultivares de milho-pipoca obtidas em quatro ambientes
Ambiente |
Capacidade de Expansão (mL. g-1) |
2 |
19,64 a |
1 |
15,03 b |
4 |
4,97 c |
3 |
4,85 c |
C.V. |
16,03 |
D.M.S. (5%) |
0,9836 |
TABELA 3 – Valores de capacidade de expansão (mL. g-1) de cultivares de milho-pipoca em quatro ambientes
Ambiente 1 |
Ambiente 2 |
Ambiente 3 |
Ambiente 4 |
|
BRS Ângela |
14,85 BC |
16,73 EF |
4,17 A |
3,00 B |
DFT 2 |
19,17 A |
19,36 CDE |
4,83 A |
5,50 A |
RS 20 |
10,81 C |
23,72 AB |
5,17 A |
4,67 A |
Zélia |
18,01 A |
23,82 AB |
4,33 A |
4,83 A |
UFLA 1 |
15,12 BC |
18,51 DEF |
5,17 A |
5,67 A |
AIWA |
13,28 BC |
21,11 CD |
5,50 A |
5,83 A |
UFLA 2 |
14,00 BC |
14,20 F |
4,83 A |
5,33 A |
C.V. |
16,03 |
|||
D.M.S (5%) |
2,60 |
Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste t a 5% de probabilidade.
LITERATURA CITADA
ANDRADE, R. A. Cruzamentos dialélicos entre seis variedades de milho – pipoca. Viçosa, MG: UFV, 1996. 79p. Dissertação (Mestrado em Genética e Melhoramento de plantas) – Universidade Federal de Viçosa, 1996.
BULL, L. T; CANTARELLA, H; Cultura do Milho: Fatores que afetam a produtividade. Piracicaba, SP. POTAFOS, 301 p., 1993.
COIMBRA, R.R. Seleção entre famílias de Meios – Irmãos da População DFT – 1 Ribeirão de Milho –Pipoca. Viçosa, MG: 2000. 54 p. Dissertação (Mestrado em Genética e Melhoramento de Plantas) – Universidade Federal de Viçosa, 2000.
RIBEIRO JÚNIOR, J.I. Análises estatísticas no SAEG. Viçosa: UFV, 2001. 301 p.
SAWAZAKI, E. Parâmetros genéticos em milho - pipoca (Zea mays L.). Piracicaba, ESALQ, 1996. 157 p. Dissertação (Doutorado em Genética e Melhoramento de Plantas) – Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", 1996.